Dos doze trabalhos atribuídos a Hércules, o primeiro – matar o leão de Neméia – poderia ser substituído por educar um filho nos dias de hoje e numa cidade grande.
São tantas as vicissitudes, os conflitos e também as alegrias que, ao assumir o papel de pai ou mãe, fecham-se as portas do purgatório. Ao ter um filho, “perde-se o direito de se aposentar do papel de pais”. (Tânia Zagury, educadora carioca)
Ser pai e mãe é:
1) Impor limites. Ter autoridade sem ser autoritário, para não sucumbir à tirania do filho. A autoridade, quando exercida com equilíbrio, é uma manifestação de afeto e traz segurança. São pertinentes as palavras de Marilda Lipp, doutora em Psicologia em Campinas: “O comportamento frouxo não faz com que a criança ame mais os pais. Ao contrário, ela os amará menos, porque começará a perceber que eles não lhe deram estrutura, se sentirá menos segura, menos protegida para a vida. Quando os pais deixam de punir convenientemente os filhos, muitas vezes, pensam que estão sendo liberais. Mas a única coisa que eles estão sendo é irresponsáveis”.
2) Transmitir valores. O filho precisa de um projeto de vida. Desde pequeno, é importante o desenvolvimento de valores intrapessoais – como ética, cidadania, solidariedade, respeito ao meio ambiente, auto-estima – que ensejem adultos flexíveis e versáteis que sabem resolver problemas e são abertos ao diálogo, às mudanças e às novas tecnologias.
3) Valorizar a escola e o estudo. Os educadores erram sim! E os pais também! Pequenas divergências entre a escola e a família são aceitáveis e quiçá salutares, uma vez que educar é conviver com erros e acertos. O filho precisa desenvolver a tolerância, a ponderação, preparando-se para uma vida na qual os conflitos são inevitáveis. No entanto, na essência, deve haver entendimento entre pais e educadores. O filho é como um pássaro que dá os primeiros vôos. Família e escola são como duas asa: se não tiverem a mesma cadência, não haverá uma boa direção para o nosso querido educando.
4) Dar segurança do seu amor. Importa mais a qualidade do afeto que a quantidade de tempo disponível ao filho. É preciso nutri-lo afetivamente, pois a presença negligente é danosa para o relacionamento. A paternidade responsável é uma missão e um dever a que não se pode furtar. No entanto, vêem-se filhos órfãos de pais vivos. A vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrada.
5) Dedicar respeito e cordialidade ao filho. Tratá-lo com a mesma urbanidade que tratamos nossos amigos, imprimindo-lhe um pouco de nós pelo diálogo franco e adequado à sua idade.
6) Permitir que, gradativamente, o filho se resolva sozinho às situações adversas. A psicóloga Maria Estela E. Amaral Santos é enfática: “Um filho superprotegido possivelmente será um adulto inseguro, indeciso, dependente, que sempre necessitará de alguém para apoiá-lo nas decisões, nas escolhas, já que a ele foi podado o direito de agir sozinho.”
O caminho da evolução pessoal não é plano e nem pavimentado. Ao contrário, é permeado de pedras e obstáculos, que são as adversidades, as frustrações, as desilusões, etc. Da superação das dificuldades advêm alegrias e destarte aprimora-se a autoconfiança para novos embates. Há momentos em que os pais devem ser dispensáveis. Usando uma feliz expressão da psicóloga Lídia Weber (UFPR) “devemos dar-lhe raízes e dar-lhe asas”.
7) Consentir que haja carências materiais. Cobrir o filho de todas as vontades (brinquedos, roupas, passeios, conforto, etc.) é uma imprevidência. Até quando vão perdurar essas facilidades? Disponibilizamos prioritariamente aquilo que não tivemos em nossa infância. Mas cabe a pergunta: estamos lhe dando aquilo que efetivamente tivemos e fomos felizes por isso?
8) Conceder tempo para ser criança (ou adolescente). Não se deve sobrecarregar o filho com agenda de executivo: esportes, línguas, música, excesso de lições atividades sociais, etc. Se queimarmos etapas de seu desenvolvimento, ele será um adulto desprovido de equilíbrio emocional. Nosso filho precisa brincar, partilhar, conviver com os amigos, desenvolvendo, assim, as faculdades psicomotoras e a sociabilização.
9) Desenvolver bons hábitos alimentares e exercícios físicos. A saúde é um dos principais legados, e não se pode descurar. Nosso filho será uma criança e um adulto saudável pela prática regular de esportes e pela ingestão diária de proteínas, frutas, verduras, legumes e muita água. Não se pode esquecer o Sol nos horários recomendados. Tais hábitos promovem o bem-estar, a auto-estima e a boa disposição para a vida.
10) Convencer o filho a assumir tarefas do lar. Certamente haverá resistência, mas ele deve ter responsabilidades em casa, assumindo algumas tarefas domésticas, como limpar o tênis, fazer compras, lavar louça, tirar ou colocar a mesa, etc. é indispensável que tenha hábitos de higiene e mantenha arrumado seu quarto.
Teria Hércules sido bem sucedido? Em meio a tantas vicissitudes do mundo moderno, você pai ou mãe e eu chegamos, talvez, a um consenso: educar bem um filho corresponde não a um, mas a doze trabalhos atribuídos ao nosso herói mitológico. Mas vale a pena!
O filho não vem ao mundo acompanhado de um manual de instruções e nem tampouco lhe será concedido um certificado de garantia. Isso posto, educar é conviver com erros e acertos. Mais acertos, proporcionalmente ao diálogo e à ternura.
E para finalizar: nós, pais, educamos pouco através de cromossomos e muito através de “como somos”.
Jacir J. Venturi
Achei bem interessante este texto e resolvi dividir com todos os pais que como eu, estão sempre sofrendo a dúvida de se estamos educando bem os nossos filhos. E como é bom ver que estamos no caminho certo!
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